31 de março de 2017

O comunicador


Os Graciosenses foram mais uma vez surpreendidos por uma morte violenta. E violentas são todas as mortes inesperadas e anunciadas de forma fria tal a estupefação do mensageiro.

O Aristides, apesar de ter partido cedo demais, deixa na nossa memória, além da imagem de um excelente homem, com um modo afável e terno no relacionamento com os outros, a recordação de uma pessoa dedicada, diria mais, de um quase profissional na cobertura de acontecimentos da nossa ilha, primeiro através da Rádio Graciosa e, mais recentemente, através das novas plataformas de comunicação, que dominava muito bem.

Quando adoeceu, o Aristides deve ter percebido da quantidade de pessoas que o admiravam, Graciosenses ou não, residentes ou a viver na diáspora, e que se preocuparam com ele naquelas horas difíceis por que passou, afinal fatores determinantes para definir a verdadeira amizade.

Ainda há pouco tempo estivemos juntos num evento social e vi, pela longa conversa e pelas explicações dadas, que o entusiasmo com que falava dos projetos em que estava envolvido era o mesmo que demonstrou aquando do advento das rádios locais.

Em novembro de 1987, a Rádio Graciosa dava os primeiros passos, emitindo ainda de forma ilegal e com equipamentos perfeitamente arcaicos. Um ano depois foi constituída a Cooperativa Rádio Graciosa e em maio de 1989 aquela estação inicia as emissões de forma regular.

Nesse tempo também andei por lá e habituei-me a ver o Aristides de auscultadores e microfone, ou então com um gravador em punho, numa grande azáfama para que tudo corresse bem.

O Aristides foi, por conseguinte, um pioneiro da rádio e colaborador daquela estação desde o início e manteve um programa, em parceria com o Helder Medina, chamado Hoje é Domingo, durante 20 anos seguidos, animando as tardes daquele dia, quase sempre com música Portuguesa, sobretudo a tradicional, onde não faltava a música popular Açoriana.


Na qualidade de um dos proprietários da Rádio Graciosa, mas sobretudo na qualidade de Graciosense, tenho a obrigação moral e cívica de, na hora da sua partida, agradecer tudo o que fez de forma tão empenhada e gratuita, para bem da Graciosa e dos Graciosenses.  

10 de março de 2017

Entrevista ao Tribuna das Ilhas (edição de 10/03/2017)


Mais uma vez contra

Em vésperas da discussão e eventual aprovação do Orçamento para 2017, Plano de Investimentos e Orientações a Médio Prazo, vem o PSD, mais uma vez, dizer que vai votar contra, independentemente da posição que o PS tem assumido, nomeadamente através de afirmações do seu Presidente, Vasco Cordeiro, da total abertura para discutir e analisar propostas de alteração realistas e exequíveis que possam vir a enriquecer estes documentos de planeamento.

Esta reação extemporânea denota, quanto a mim, a firme intenção deste partido não negociar com ninguém, ou seja, ficar isolado num dos momentos mais importantes para os Açores e que marca o início de mais uma legislatura.

Elaborar e apresentar propostas, e conformá-las com várias vontades, dá trabalho e exige esforço dos protagonistas. Negociar implica cedências e a defesa de princípios. Pelos vistos ao PSD nada disto interessa. É estar contra apenas porque sim. Esta é uma posição cómoda de quem se exigia mais responsabilidade.

O PSD enveredou pelo caminho mais fácil. Apesar de estar contra as políticas sociais do Partido Socialista, não se percebendo bem porquê, vai apresentar, afinal, umas propostas avulsas atribuindo mais uns pozinhos aos mecanismos de proteção social criados e mantidos pelos governos do PS.

Não parece nada de mais, mas para este partido da oposição, sempre desconfiado das contas públicas, apesar destas estarem certificadas por organismos nacionais e internacionais e refletirem um défice insignificante e uma dívida pública inferior a 40% do PIB, faz o que sempre dizia condenar: atirar dinheiro para os problemas.

Depois de fugir ao debate de ideias e de soluções para os problemas dos Açorianos, o PSD está a enveredar pelo caminho mais fácil: dizer apenas o que as pessoas gostam de ouvir.

3 de março de 2017

Carnaval é na Graciosa

Terminou mais um carnaval, época de pura diversão com muita música, cor e ritmo muito apreciados pelos Graciosenses, os de cá e os que, estando fora, aproveitam esta altura do ano para visitarem a terra que os viu nascer e os seus entes queridos.

Em alguns sítios o carnaval desenrola-se em três dias. Na Graciosa são quase três meses. No dia 25 de dezembro de cada ano abrem as “hostilidades” com o primeiro baile carnavalesco, num qualquer clube ou filarmónica da ilha, que marca o início de um tão longo como animado caminho que só terminará por volta da meia noite da terça-feira de carnaval.

Ouvi de um Graciosense, dançarino provecto, que a quarta-feira de cinzas era, para si, o dia mais triste do ano, precisamente por marcar o fim desta folia que contagia toda a gente, incluindo os que chegam de fora para, com os seus próprios olhos, confirmarem esta forma peculiar e alegre de festejar o carnaval.

Os clubes organizam-se muito cedo, preparando o seu programa com bailes cada vez mais frequentes conforme nos aproximamos daquele fim de semana mítico. Os bailes estão marcados para os diversos dias da semana, não havendo dúvidas sobre que dias da semana toca a cada um, conforme manda a tradição.

Preparam as suas fantasias, onde se incluem os convites informais aos figurantes, as escolhas das indumentárias, as opções pelo tema musical e a decoração das salas. A seguir há ensaios para acertar a coreografia, mais ou menos elaborada, que será exibida em todos os outros clubes da ilha.

Este ano o carnaval Graciosense contou com 650 figurantes nas 23 fantasias vindas de 8 clubes ou filarmónicas, número que representa cerca 15% da população e muitos mais participaram nas restantes atividades. Esta envolvência é, de facto, impressionante.

Por fim temos os bailes. Os clubes e filarmónicas da ilha abrem as suas portas a toda a gente, literalmente, para proporcionar noites de autêntica magia e diversão.

Na Graciosa o carnaval será sempre assim, será sempre dos clubes e no futuro só poderá ser aquilo que os clubes quiserem. E estará muito bem entregue.