26 de julho de 2012

O abandono


Berta Cabral finalmente anunciou que vai renunciar ao mandato como presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada no final deste mês de julho. Foi um gesto que se adivinhava difícil, mas lá chegou há sua hora. Esta notícia, já esperada, vem repor alguma normalidade naquela edilidade, pois as ausências da sua presidente eram demasiado evidentes e cada vez mais demoradas, para se dedicar quase em exclusividade à sua candidatura a presidente do Governo Regional.

Mas, de facto, este abandono da maior autarquia dos Açores já não é de agora. Em boa verdade tem sido o vice-presidente a liderar informalmente a autarquia, com todos os inconvenientes que essa indefinição acarreta, por isso é correto inferir-se que Berta Cabral afinal já há muito tempo tinha abandonado a Câmara Municipal de Ponta Delgada e os pontadelgadenses.

Esta estratégia de se manter a todo o custo e até quase ao limite poderá, de certo modo, ter sustentado a constante aparição na comunicação social da sua presidente e candidata, que, como se sabe, gosta de juntar esta faceta mais vistosa da política a outras mais inusitadas: a da promessa fácil e da satisfação de descontentamentos.

No fundo este comportamento de se agarrar à cadeira do poder foi notoriamente prejudicial ao seu concelho, pelas razões óbvias que estão à vista de todos e ainda por ter feito da Câmara Municipal do seu concelho um posto de comando avançado de oposição ao Governo Regional. Este voltar de costas constituiu um prejuízo evidente para a população.   

Não há qualquer dúvida que a Câmara Municipal de Ponta Delgada foi usada por Berta Cabral, de forma abusiva, para satisfazer a ambição pessoal e política de chegar ao Governo Regional.

19 de julho de 2012

Regionais 2012


Fui convidado pelo Dr. Vasco Cordeiro e pelo PS/Açores para encabeçar, pela primeira vez, a lista pelo círculo eleitoral da Ilha Graciosa às próximas eleições regionais, que se realizarão, previsivelmente, no próximo mês de outubro.

Aceitei esse desafio e fi-lo com a convicção de que, apesar do muito que foi feito por todas ilhas dos Açores, é preciso terminar estra obra imensa de mudar os Açores e a Graciosa para melhor.

Fi-lo também porque apesar de estar orgulhoso do trabalho feito desde 2004, altura em que pela primeira vez fui eleito para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, tenho a humildade de reconhecer que é preciso fazer mais e melhor.

Por último, e com toda a certeza a principal das razões, aceitei este desafio porque acredito no Vasco Cordeiro e na sua capacidade para liderar um processo de renovação de um modo tranquilo e com confiança. As suas ambições para os Açores são imensas, a sua vontade de manter o estado social é inflexível e a sua coragem para enfrentar as dificuldades é conhecida.

Nestas eleições Vasco Cordeiro perfila-se como um candidato diferente de outros, nomeadamente do maior partido da oposição. É jovem, mas tem experiência e capacidade políticas que nos dão garantias para governar a região. É um acérrimo defensor da autonomia da nossa região e já afirmou que, seja lá que partido for a dirigir o país, cerrará fileiras para defender os interesses dos Açores e das suas populações. Esta sua forma inquebrantável de defender este enorme património opõe-se claramente àqueles que não se importam de se ajoelharem perante as sombras centralistas.

É por isso que não tenho dúvidas que estas eleições serão as mais importantes das realizadas até aqui.

18 de julho de 2012

Competente, dedicado e generoso


Juvenal Correia Teles

(14/02/1923 - 18/01/1996)

Quando saí do consultório do meu tio Gregório, situado no Largo de Santo António, onde agora é a agência da Caixa Geral de Depósitos, transportava na mão uma receita para o problema de pele que tinha aparecido poucos dias atrás e na cabeça trazia a esperança de poder debelar aquele ardor que me afligia, com a aplicação do medicamento prescrito.

Quando cheguei à farmácia Santos Costa e entreguei a receita ao senhor Juvenal da Farmácia, como era mais conhecido, é que percebi que não se tratava de uma receita tradicional, com o nome de um medicamento que seria retirado de uma qualquer prateleira. Antes pelo contrário. Era uma descrição de elementos químicos que combinados na dose certa haveriam de ajudar a combater o problema.

A parte da frente da farmácia tinha uma mesa que servia de balcão e que era a base de uma velha registadora. As paredes estavam preenchidas com armários brancos repletos de medicamentos, meticulosamente ordenados. Na dependência interior existia uma mesa grande no meio, com tampo de mármore onde se podiam ver várias balanças, uma delas de precisão, um gral e outros utensílios farmacêuticos e as paredes ao redor forradas de frascos e potes, escuros como convinha, para manter a pureza dos ingredientes farmacêuticos, todos identificados com uma etiqueta branca, debruada a vermelho. Num dos lados estavam os adesivos, o algodão, a gaze, a tintura de iodo e o mercurocromo, preparados para tratar das feridas de quem procurava aquela farmácia. Sobressaiam também as caixas metalizadas com seringas e agulhas para a aplicação de injeções. No chão existia um estrado de madeira e junto às prateleiras podiam-se ver uns bancos pretos. A limpeza, o cheiro intenso a químicos e a medicamentos, a cor branca do mobiliário e dos tampos das mesas, dava a ideia de estarmos num lugar perfeitamente esterilizado, característica que é, aliás, comum a outros estabelecimentos do género e a hospitais.

O senhor Juvenal dirigiu-se à dependência interior e com o seu olhar experiente chegou, rapidamente, aos componentes descritos na receita e num ápice preparou o medicamento proposto pelo meu tio que me haveria de trazer alivio para a minha maleita.

Naquele tempo era assim. Uma parte do receituário de meu tio Gregório, único médico na ilha durante muitos anos, era composta na própria farmácia. Com a cumplicidade do Dr. Gregório o senhor Juvenal chegava mesmo a recomendar tratamentos, mas quando via que não estava à altura para resolver a situação, era o primeiro a reencaminhar o doente para o médico. Entre os dois havia uma relação de confiança que dava segurança aos doentes. De um lado estava um homem licenciado em medicina e que tinha, segundo dizem, um grande acerto nos diagnósticos e de outro estava um ajudante de farmácia, que aprendeu à sua custa tudo o que sabia, mas, no fundo, dotado de muitos conhecimentos que a longa experiência de mais de 40 anos de atividade lhe tinha dado. A enorme competência profissional demonstrada ao longo de toda a sua vida foi adquirida graças à sua dedicação e ao trabalho árduo.

O senhor Juvenal começou a trabalhar naquele estabelecimento quando tinha apenas 15 anos de idade, logo a seguir ao seu exame da 4ª classe. Interrompeu esta atividade aos 19 anos para cumprir o serviço militar no Batalhão Independente de Infantaria nº 17, onde recebeu um Louvor.

No seu percurso foi ganhando competências e estatuto. Passou a fazer domicílios para aplicação de injeções e tratar de feridas dos doentes acamados, fazendo-se deslocar primeiro de bicicleta, depois de mota e depois de carro. Mais tarde destacou-se na manipulação dos químicos que compunham muitos dos medicamentos que dali saíam. Fez também a contabilidade do estabelecimento.

Nesta sua profissão era chamado à farmácia com muita frequência. Muitas das vezes essas chamadas eram feitas pela noite dentro ou em períodos de invernia, para fornecer os medicamentos a quem deles precisava, o que implicava algum sacrifício pessoal. Nesta profissão muitas vezes o conforto de casa ou a participação em eventos sociais tinham de ser interrompidos para acudir a quem necessitava, tal como ainda hoje acontece.

Em 1982 ingressa na Câmara Municipal onde trabalhou até à sua morte, exercendo funções de carácter administrativo.

Para além destas atividades, o senhor Juvenal era um grande produtor de vinho de cheiro. Desde muito cedo que gostava de produzir o seu próprio vinho que era feito e armazenado numa adega anexa a sua casa. O que sobejava do utilizado para consumo próprio era vendido, nomeadamente exportado para a Terceira e S. Miguel, através do senhor Bernardino. Para este mesmo comerciante comprava pipas e pipas de vinho por toda a ilha, ajudando assim os pequenos vitivinicultores a escoar a produção excedentária. Na semana anterior passava pelas casas das pessoas avisando-as do dia do navio. No dia combinado passava novamente, mas desta vez de camioneta, e carregava as pipas que os produtores tinham deixado à porta das suas adegas. Por mês chegava a exportar 15 pipas de vinho, o que equivalia a 7.200 litros.

Antes de 1974 foi vereador da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa. Foi também diretor da Adega Cooperativa da Ilha Graciosa, num período que aquela instituição tinha um peso importante na economia da ilha.

Desempenhou o cargo de delegado nesta ilha do Instituto de Apoio Comercial à Agricultura, Pecuária e Silvicultura, no exercício do qual, segundo referia o seu Presidente da Direção aquando da sua morte, ”foi notório o interesse com que sempre abordou os problemas relacionados com a atividade deste Instituto”.

Na década de 70, altura em que se verificou um grande surto migratório, passou a ser procurador de muitos emigrantes residentes nos Estados Unidos da América e no Canadá. Nessa condição tratava dos imóveis e de outras burocracias de muitos dos que tiveram de procurar um melhor futuro noutras paragens. É sabido que esta função era desempenhada sem qualquer contrapartida, pelo que o senhor Juvenal terá ajudado muitas pessoas de modo gratuito, o que combinava muito bem com o seu feitio generoso, sempre pronto para ajudar quem dele necessitava.

12 de julho de 2012

Fazer o que se diz e ignorar o que se faz

Estava eu a passar os olhos pelos jornais logo pela manhã quando me deparei com uma notícia interessante: “Berta Cabral garante mais apoios sociais à custa de menos festas e viagens”.

Vindo de quem vem este propósito é, por demais, surpreendente. Todos conhecem, principalmente os micaelenses, a queda que Berta Cabral tem por festas e arraiais. Ainda recentemente, quando pressionada para suspender o seu trabalho, já a tempo parcial, como edil da maior autarquia dos Açores, a presidente da câmara e candidata a presidente do governo, apressou-se a disser que só sairia dessas funções depois das festas do Espírito Santo, as quais terão sofrido um reforço de verbas este ano. Pela amostra se percebe que estas festas são muito importantes para ela, se calhar pela visibilidade que lhe proporciona.

Se atentarmos aos inúmeros atos públicos, nesta muito fértil pré-campanha eleitoral, as festas tem servido de constante cenário para as suas aparições, mesmo quando promovidas por instituições cujos sócios não foram informados sobre a sua utilização abusiva como meio de propaganda, comprometendo as pessoas que exercem honestamente cargos nos órgãos sociais e os propósitos de equidistância e independência perante o poder político que estas instituições devem ter.

No que respeita a viagens, bem aí o que vemos é uma roda vida. Desde a Coreia do Sul, em representação da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, ou os Estados Unidos da América, em representação da Câmara de Ponta Delgada, até ao Brasil, para assinar um contrato com um arquiteto para uma obra que não se sabe se verá a luz do dia, passando pelas inúmeras viagens entre ilhas, a atuação desta líder partidária tem-se pautado exatamente por um vai vem constante, nalguns casos de duvidosa utilidade.   

Por isso é difícil entender este título de notícia e estas oportunistas intenções, porquanto esta líder partidária faz exatamente o contrário daquilo que apregoa.

5 de julho de 2012

O turismo e as potencialidades naturais

Vasco Cordeiro, na qualidade de candidato a Presidente do Governo, assume que o mar, a biodiversidade e a localização estratégica destas ilhas, são fundamentais para o futuro dos Açores.

Nos Açores, e especialmente nas chamadas ilhas da coesão, os governos da responsabilidade do Partido Socialista impuseram uma marca indelével moldada por uma estratégia de modernização e desenvolvimento que já está a produzir frutos.

A infraestruturação das ilhas foi um trabalho imenso perpetrado com base num plano de desenvolvimento harmonioso de todo o arquipélago. Por aqui e por ali fizeram-se apostas nas aptidões endógenas, como a agricultura e a pesca, capacitando cada uma das ilhas de modo a poderem obter mais-valias, dinamizando, por esta via, as pequenas economias insulares.

A aposta na requalificação da indústria de laticínios, o melhoramento animal, a diversificação agrícola, a construção de portos de pesca e a renovação da frota, são exemplos disso mesmo. Estas medidas, em conjunto com a redução de custos e ajudas nos transportes, tem facilitado as exportações destas ilhas mais pequenas.

Recentemente o governo regional enveredou pelo terceiro pilar, o turismo. Mais uma vez o governo chegou-se à frente nas ilhas com menores capacidades financeiras e substituiu a iniciativa privada na construção de estruturas hoteleiras. Apostou-se, também, em pequenas unidades de turismo rural, como forma de captar nichos de mercado ligados à natureza. Os resultados não tardaram em aparecer com o crescimento sustentado das dormidas nos estabelecimentos de hotelaria tradicionais.

Esta aposta neste setor emergente tem sido devidamente acompanhada com medidas importantes na área do ambiente. O reconhecimento das ilhas do Corvo, Graciosa e Flores como Reservas da Biosfera pela UNESCO, os projetos na área de produção de energia limpa, como o caso do projeto Younicos na Graciosa, dão uma necessária notoriedade a este destino.

A par disso o Governo investiu na gestão dos resíduos urbanos, exportando todos os que não são passíveis de valorização. Criou também os parques naturais e o parque marinho que incluem áreas protegidas, que se revelam fundamentais na preservação de algumas espécies e contribuem para a reposição de stocks piscícolas.

Foi por tudo isso que em 2007 os Açores chegaram ao topo, quando foram consideradas as segundas melhores ilhas do mundo para o turismo sustentável pela prestigiada revista internacional National Geographic, logo a seguir às ilhas Faroe, na Dinamarca.

Esta paisagem verde retalhada e delimitada pelo azul deste imenso mar, as tradicionais casas construídas com a pedra negra dos nossos vulcões, constituem uma paisagem deslumbrante. A simplicidade e a simpatia dos Açorianos completam este cenário único.

Usufruir de todas as potencialidades minimizando os impactes negativos é o desafio que temos pela nossa frente.

4 de julho de 2012

Animador invulgar e lutador

Valter da Cunha Melo

(12/02/1934 – 22/03/2011)

Quando o navio Ponta Delgada se aproximava do porto de Santa Cruz ou da Praia, surgia ao fundo uma lancha com o Cabo do Mar a bordo que, com uma bandeira, sinalizava o local apropriado para o comandante da embarcação mandar arrear a âncora. Esta manobra era fundamental pois permitia aos conhecedores das baías escolher um bom fundo e dá-lo a perceber ao comandante e assim evitar a perda de tão importante equipamento. A partir do fundeadouro o serviço de desembarque e embarque fazia-se num lento vaivém desta frágil embarcação de madeira.

De seguida a lancha voltava ao cais e trocava o Cabo do Mar pelo senhor Valter Melo e dirigia-se novamente ao navio, encostando-se à escada do portaló feita de madeira e cabos, dependurada no través do navio. Com a ajuda de um dos marinheiros, que se colocava estrategicamente no patamar ao fundo da escada, o senhor Valter era a primeira pessoa a entrar no Ponta Delgada, sempre acompanhado por uma pasta com a listagem dos passageiros a embarcar e outra papelada necessária ao despacho. Naquela altura já havia grande azáfama, com os passageiros a prepararem-se para o desembarque. O senhor Valter, passava pelo portaló em passo apressado e perdia-se no convés por entre os passageiros em direção ao conferente de bordo para tratar da burocracia. Depois, a partir do navio, acompanhava toda a operação de desembarque e embarque dos passageiros e só regressava a terra na última lancha, cerca de 2 horas depois da chegada.

Primeiro o senhor Valter foi despachante oficial das Alfândegas. Depois da desativação daquele serviço nesta ilha, nos anos 70, ingressa na Empresa Insulana de Navegação. Mais tarde torna-se correspondente do Banco Português do Atlântico e inicia o percurso de mediador de seguros, tendo sido agente da Tranquilidade, função que exerceu até à sua reforma.

O senhor Valter Melo era daquele tipo de pessoas que não deixava ninguém indiferente. Muito alegre e sempre bem-disposto o senhor Valter destacava-se naturalmente em qualquer grupo, por ser o centro de todas as atenções. Tinha uma enorme facilidade para contar uma história e fazia humor a partir de uma qualquer banalidade. Conseguia arrancar gargalhadas dos amigos com muita facilidade, mesmo com histórias que a partir da boca de outros não teriam piada nenhuma. Estava sempre pronto para participar em convívios com os amigos que, normalmente, acabavam com ele a cantar músicas do reportório popular, sempre acompanhado pelo seu cunhado Serra, de quem era, também, inseparável amigo.

Este seu registo de pessoa divertida e bem-disposta contrastava, e muito, com a sua postura no campo profissional, que encarava com muita seriedade e reconhecida competência, em todas as funções que desempenhou ao longo da sua vida. Como é recomendável conseguia sempre manter uma fronteira bem definida entre o trabalho e o divertimento, nunca misturando as duas coisas.

Há alguns anos atrás foi-lhe diagnosticada uma doença grave que o obrigou a diversas e prolongadas deslocações para o respetivo tratamento. A grande maioria das pessoas, perante uma notícia destas, claudicaria, com toda a certeza. A gravidade desta situação complicada nunca lhe tirou a alegria de viver, nem amenizou o seu espírito brincalhão. Lutou diariamente contra esta doença e no final saiu vencedor. Sem dúvida que a experiência de vida deste homem e a sua reação à adversidade é um exemplo para todos nós, sobretudo para aqueles que se deixam abater perante a primeira contrariedade.

O senhor Valter Melo tinha uma grande paixão pelo “seu” Graciosa Futebol Clube. Naquele clube fez de tudo. Foi jogador durante anos e anos. Lembro-me de o ver jogar, no Campo Grande ou no Campo da Avenida. Na altura eu não tinha qualquer capacidade para avaliar um jogador, mas dizem-me que foi grande nesta modalidade. Foi também dirigente, incluindo presidente da direção. Aliás, deve ter desempenhado todos, ou quase todos, os cargos existentes nos corpos sociais do clube.

Quando o clube estava instalado na casa da senhora Carolina Maria, na Rua Dr. João de Deus Vieira, as festas de aniversário daquela instituição ocorriam, muitas vezes, na sua casa de campo, a Vivenda Verde, situada no Jardim. Eram momentos mágicos que pude assistir uma ou outra vez, levado pela mão do meu irmão, e que agora gosto de recordar com uma certa nostalgia.

Nos anos 80 foi preponderante na decisão de se construir uma sede social de raiz, em parceria com outros adeptos daquela instituição. Ele fez parte de um grupo de pessoas que meteu mãos à obra, literalmente, e ajudou a construir aquele edifício que agora muito orgulha os seus sócios.

Depois de deixar de jogar, ainda fez uma perninha num clube criado quase por brincadeira, o Falta de Ar, constituído por atletas já há muito retirados ou jogadores improváveis, que participava em atividades locais, tendo, inclusivamente, vencido uma prova nas Festas de Santo Cristo, perante os incrédulos jovens que faziam parte das equipas regulares, onde eu próprio me incluía.

Vi-o também jogar voleibol, no campo de S. Francisco nas tardes de verão, onde se assumia com líder e com quem todos gostavam de jogar. Eram jogatanas animadíssimas em que a piada fácil, especialidade do senhor Valter, alternava com as picardias próprias de jogos muito disputados. As pessoas, depois dos seus trabalhos, juntavam-se ali, equipados tal como estavam vestidos, marcavam o campo com cal e montavam a rede que normalmente ficava guardada no saguão do tribunal, tal como a única bola existente. Dividiam-se as pessoas em dois grupos e escolhia-se alguém da assistência para dirigir o jogo em cima de um banco cinzento retirado das sentinas, localizadas mesmo ali ao lado. Não interessava se o eleito percebia ou não da matéria, o que era imprescindível é que fosse capaz de manter a ordem. Juntava-se ali uma animada assistência que acompanhava o jogo que só terminava ao cair da noite.

Era um grande animador dos bailes do seu clube de sempre. Conseguia transformar facilmente uma noite sem brilho num baile memorável. Com a sua maneira de ser e a sua alegria, arrastava os presentes para as coreografias inventadas por ele na hora, ao ritmo das marchas tocadas pelo conjunto do Graciosa Futebol Clube, onde se destacava a voz e a trompete do saudoso Gasparinho, o saxofone do Acácio e a viola ritmo ou o órgão elétrico tocados pelo Valdemiro.

Nos serões que passava no Graciosa gostava de jogar à sueca ou ao dominó com o seu grupo de amigos. Foi também ator de teatro no grupo da Filarmónica Recreio dos Artistas, representando papéis que combinavam com a sua personalidade, ou seja, divertidos.

O senhor Valter Melo foi um animador invulgar e também um lutador que soube combater a adversidade com a única arma que tinha: a alegria de viver. Sem dúvida que o seu percurso de vida marcou várias gerações, uma das quais a minha.

3 de julho de 2012

Intervenção na Assembleia Legislativa da R.A. dos Açores


Há dezasseis anos houve uma mudança de paradigma na Ilha Graciosa. De uma postura resignada perante a inércia do Governos que exerceram as suas funções até 1996 e a incapacidade local para dinamizar a economia, que definhava lentamente, fator que levou, nos anos oitenta, à emigração massiva de cerca de 25% de Graciosenses, que procuraram lá fora oportunidades que lhes eram negadas na sua própria terra, passámos para uma nova atitude que levou a uma completa infraestruturação da ilha, tal como aconteceu no restante arquipélago, começando por áreas fundamentais, como a energia, a educação ou a saúde, passando pela reabilitação das estruturas de transportes marítimos e aéreos e da rede viária, chegando às áreas económicas, como a agricultura com a construção da nova fábrica de laticínios, ou as pescas com a construção do porto de abrigo, lota e casas de aprestos ou ainda no turismo com a construção de um hotel de quatro estrelas, culminando no apoio social, que andou até 1996 pelas ruas da amargura.      


Foi com a convicção de que o muito que foi feito é muito mais do que está por fazer, que o Governo dos Açores esteve, no passado mês de junho, a cumprir mais uma visita estatutária à Ilha Graciosa, dando um forte sinal às populações que as conquistas do estado social são para manter e, nalguns casos, passíveis de reforço, apesar dos ataques perpetrados por Lisboa.


É mesmo assim. A humildade que orienta a nossa ação política faz-nos reconhecer que não está tudo feito, nem que somos os donos de toda a verdade ou que os virtuosos estão apenas do nosso lado. Mas esta postura coerente nunca nos fará abdicar do enorme orgulho que temos pelo trabalho imenso feito por todas as ilhas dos Açores, incluindo, claro está, a Graciosa.


A inauguração do novo Centro de Saúde, testemunhado por centenas de Graciosenses, foi, sem dúvida, o momento mais importante desta visita. O moderno edifício, capaz de proporcionar um serviço de melhor qualidade e com melhores condições para os profissionais e utentes e com o dobro da área do anterior, vai substituir um outro, obsoleto e que já não tinha condições para um cabal desempenho na prestação dos cuidados.


Fazendo parte integrante de uma política responsável na preservação do ambiente foi inaugurado o novo Centro de Processamento de Resíduos, que facilitará a gestão deste problema, nomeadamente com a exportação de grande parte dos resíduos produzidos, ficando naquela ilha apenas 25% e que serão passíveis de valorização. Este processo culminará com a selagem das lixeiras a céu aberto e com o encerramento e a recuperação do aterro sanitário existente mesmo ao lado da pista do aeroporto e que dá uma imagem negativa a quem nos visita.


Enquanto o governo de Passos Coelho fecha serviços da responsabilidade do Estado, como aconteceu recentemente na Calheta de S. Jorge, com o encerramento da repartição de finanças, ou o que se prepara para fazer no Nordeste ou na Povoação, com o encerramento dos tribunais, o Governo Regional aposta em aproximar a administração regional aos Açorianos. Por isso inaugurou o terceiro posto RIAC, este na freguesia da Luz, que irá proporcionar à população o acesso a uma diversidade de serviços, incluindo a marcação de consultas médicas, já a partir deste mês de julho.  


O Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz foi também inaugurado depois de totalmente requalificado, com a remoção das barreiras arquitetónicas e dotado de equipamentos modernos que proporcionam uma melhor qualidade de vida aos seus utentes.


Foi inaugurado também um miradouro no caminho florestal da Caldeira, que irá melhorar a oferta turística.


Foi também inaugurada a segunda fase do caminho agrícola Barreiro – Vales, uma obra há muito pedida pelos agricultores daquela zona e que irá servir várias explorações agrícolas.


Além da conclusão destas obras e no âmbito do Conselho de Governo que decorreu durante aquela visita, foram ainda tomadas decisões importantes, nomeadamente com vista a reabilitar a Escola da Vila da Praia, a melhorar algumas vias de comunicação, apoiar os espaços TIC, iniciar os procedimentos para o lançamento do concurso da Marina da Barra, reabilitar moradias para realojar famílias carenciadas, contratar mais um médico para o período do verão, implementar o serviço de enfermagem ao domicílio aos sábados para evitar a ida de alguns doentes à urgência, ajudar a Adega e Cooperativa na contratação de um plano financeiro para a execução do seu projeto de modernização, lançar a terceira fase do caminho agrícola Barreiro – Vales, entre outras.


Foram ainda apresentados projetos de tecnologia de ponta, como o SuperDARN, que incluirá a estação de radares da Graciosa numa vasta rede de 25 estações, ou a instalação definitiva do programa meteorológico ARM.


Estas inaugurações e estes anúncios de processos que estão em andamento ou prontos para arrancar, fazem parte dos compromissos apresentadas a sufrágio em 2008. Não vamos cumprir tudo, infelizmente, mas é preciso lembrar todos aqueles - já bem poucos, felizmente – que dão saltinhos de alegria quando algo não corre como o previsto, que o nível de cumprimento das promessas eleitorais que apresentamos aos Graciosenses é muito elevado e é por isso, com toda a certeza, que o povo daquela terra tem renovado a confiança em nós.


Enquanto avançamos e preparamos o futuro cumprindo uma estratégia de desenvolvimento, temos pela frente uma oposição que se entretém a puxar para trás, a denegrir aqueles que não são como eles, a incentivar os mais incautos a ofender e a optar pelo ataque pessoal, utilizando mentiras e meias verdades, que em nome da ética política deveriam ser renegadas. As desmesuradas ambições pessoais não justificam passar por cima dos outros sem qualquer pejo.


Na Graciosa é um pouco isso que se passa. Alguns políticos, alguns ex-políticos, alguns dos que se perfilam a candidatos a políticos e outros que tais, passam os dias, de esquina em esquina, a engendrar como se pode deitar abaixo isto ou aquilo, quando eles próprios, quando passaram pelos cargos que lhes permitiriam deixar a sua marca ou a concretização das suas ideias para aquela ilha, deixaram-nos apenas uma mão cheia de nada.


Muitos Graciosenses estão a ficar imunes a estas táticas de guerrilha política. Cada vez vale menos a pena tentar ludibriar o povo.


Horta, Sala das Sessões, 3 de julho de 2012.