28 de dezembro de 2012

Contador de histórias



Gabriel Correia Pacheco de Melo

(07/01/1923)

A biblioteca itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian corria as freguesias carregada de livros, proporcionando aos Graciosenses o acesso à leitura. Para uma grande parte da população esta era a única hipótese de contatar com os livros.

A carrinha, de marca Citroen, tinha um aspeto esquisito. Era forrada com uma espécie de chapa frisada, uma frente proeminente, com formas bem marcadas, mesmo tipo caixote, e com o tejadilho de abrir. Podia parecer invulgar mas era funcional. O seu interior guardava cerca de dois mil livros, meticulosamente arrumados, ficando os infantis nas prateleiras de baixo, os livros de ficção, biografias e de viagens ficavam ao meio e nas prateleiras superiores eram colocados os livros menos requisitados.

Terão sido milhares os livros emprestados nesta ilha por este serviço criado pela Fundação Calouste Gulbenkian que, deste modo, se substituída ao estado numa das suas funções mais básicas. No país foram emprestados por esta instituição cerca de 95 milhões de livros, segundo uma notícia da Lusa/RTP.

A gestão da viatura e do armazém, que deveria ter o triplo da capacidade da biblioteca itinerante, era feita por um auxiliar e também por um encarregado, cuja função mais relevante era a de orientar as escolhas dos leitores. Não se exigia ao encarregado qualquer formação específica, apenas um boa cultura geral, o gosto pela leitura e uma boa capacidade para lidar com o público.

O senhor Gabriel Melo tinha todas essas competências. Durante os vinte e dois anos em que exerceu esta atividade recebia como ninguém os seus “clientes” e incutia-lhes o gosto pela leitura, não só lúdica mas também formativa e informativa.

Foi nesta sua função que tive o primeiro contato com o senhor Gabriel Melo. Ainda me lembro o modo afável com que recebia as crianças e jovens da minha idade e lhes emitia os cartões onde eram registados os empréstimos dos livros. Aliás este seu modo terno e sempre bem-disposto com que tratava as pessoas ainda o acompanha hoje em dia. Era também ele que distribuía gratuitamente os livros de estudo pelos estudantes com mais dificuldades.

O senhor Gabriel fez o liceu no Brasil e é nesse país que inicia o seu percurso laboral. Foi funcionário no Gabinete Português durante alguns meses e depois transita para o Consulado de Portugal em Salvador da Baía onde trabalhou durante dois anos.

Em 1946, quando resolve voltar à sua terra, esteve no Brasil à espera de transporte até Lisboa durante três longos meses. Chegado à capital portuguesa esperou ainda mais dois meses para apanhar navio para os Açores. Eram os resquícios da II Grande Guerra Mundial a ditar as regras numa altura em que faltava tudo. Casa quatro anos depois de cá chegar e desse casamento resultaram três filhos.

Já na sua terra natal desenvolve uma intensa atividade social, sendo um dos fundadores do Clube Central e Recreativo de Guadalupe, de onde nasceram, por sua vez, o Sporting Clube de Guadalupe e a Filarmónica União Progresso de Guadalupe, dos quais também fez parte dos seus corpos sociais.

O surgimento do clube teve uma pequena história. O senhor Gabriel e um amigo, depois de autorizados a utilizar a casa de sua mãe para bailar, preparavam-se para proceder às respetivas limpezas na manhã seguinte. Durante a noite o senhor Gabriel pensou que seria do agrado da população a freguesia poder dispor de um clube definitivo e identifica a atual sede como um dos melhores sítios para a instalar, mesmo estando sem soalho e um pouco degradada. Nessa manhã e antes de procederem às limpezas na casa de sua mãe, conforme estava combinado, seguem até casa do procurador e fecham o negócio por 40 contos. E foi com este impulso que o Clube Central e Recreativo de Guadalupe é fundado a 31 de julho de 1955.

O Sporting Clube de Guadalupe também surge pela vontade deste homem que achava que um clube desportivo na sua freguesia traria algum movimento, apesar de ter sido dissuadido por amigos que o assustaram com os problemas que uma estrutura deste género poderia trazer. Não se atemorizou e procura o terreno para construir um campo de futebol para o clube que ajuda a inaugurar em 22 de abril de 1962.

No ano seguinte, mais precisamente no dia 29 de setembro, juntamente com os Guadalupenses que achavam que a freguesia mais rica e mais populosa da ilha necessitava de uma filarmónica que lhe desse prestígio, ajudou a fundar a Filarmónica União Progresso de Guadalupe.   

Foi o primeiro ganadero da Graciosa e, por essa via, foi o percursor das touradas nesta ilha. Com apenas dois toiros promoveu o gosto pela festa brava, que hoje ainda persiste e se encontra enraizado como uma tradição do nosso povo. Também se dedicou á exportação de gado vivo para o continente português durante cerca de 20 anos, atividade que, como se sabe, dinamizava a economia da ilha.

Em 1980 é eleito Presidente da Junta de Freguesia de Guadalupe, cargo que exerce até 1983.

Tem um gosto especial por viagens. Para além de conhecer muito o nosso país, conhece também o Brasil, onde viveu alguns anos, a Espanha, a Itália, o Reino Unido, a França e os Estados Unidos.

Tem um jeito muito especial para contar histórias de todo o tipo, mas distingue-se nas histórias verídicas. Nestes tempos de correria, em que não se pára para pensar e em que as preocupações com questões materiais se sobrepõem às coisas simples da vida, é um prazer ouvir histórias verídicas da nossa e de outras gerações e o senhor Gabriel fá-lo como ninguém. Conta-as umas atrás das outras.

No dia 7 de janeiro de 2013 o senhor Gabriel comemorará o seu nonagésimo aniversário, mantendo uma invejável boa disposição e um espírito jovem, que sempre o tem acompanhado ao longo da sua vida.

27 de dezembro de 2012

O Pai Natal


Neste período do ano lembro sempre, com uma certa nostalgia, os tempos em que acreditava no Pai Natal. Naquele tempo os diversos comerciantes, com a criatividade que os caraterizavam, tinham um Pai Natal que distribuía pelas casas dos seus clientes a prendas previamente adquiridas nos seus estabelecimentos.

A espera fazia-se em “pulgas”, com o pijama já envergado e com o rosto colado à janela da frente. Era um momento mágico, aquele em que o homenzinho de barbas brancas satisfazia uma parte, muito pequena diga-se, dos desejos da criançada.

Passada a idade da inocência e em que deixamos de acreditar em tudo o que nos dizem, mantenho o hábito de, nesta época natalícia e de transição para um novo ano, pedir a concretização de alguns desejos, muitos deles repetentes.

Queria que acabasse a fome e a guerra no mundo. Queria que o dinheiro gasto em armamento fosse todinho para a cura de doenças que ceifam vidas. Pretendia que o ser humano fosse mais justo e mais fraterno. Desejava acabar com a malvadez e a hipocrisia, tão abundante nos tempos que correm. Acho que não é pedir muito…

Mas ao aproximar-me do ano 2013 e pelo que os portugueses sofreram neste ano que agora termina, tenho mais uns desejos.

Queria que o Passos Coelho deixasse os pensionistas em paz e acabasse com as ameaças veladas de mais cortes nas suas pensões. Queria que o Presidente Cavaco Silva tivesse um sobressalto, nem que fosse cívico. Gostaria que os enfermos continuassem a ser tratados das suas maleitas e a ter acesso aos remédios de que precisam. Desejava que aos idosos continuassem a ser dispensados acompanhamento e carinho na última etapa das suas vidas. Queria que o governo não vendesse a RTP, que não deixasse morrer as universidades e que devolvesse os submarinos aos alemães.

Daqui a um ano cá estarei, se tiver vida e saúde, para renovar a esperança e os desejos que não forem concretizados. Bom Ano.

20 de dezembro de 2012

Diferenças


Estando sob a intervenção internacional para financiar o país, ficamos, indiscutivelmente, numa condição de estado com a soberania hipotecada, já se sabia.

Sempre que se pensa em algo de mais construtivo, como foi o caso recente da pretensão de aumentar o salário mínimo nacional, logo o governo de Passos Coelho se apressou a dizer que tem de pedir autorização à troika, que, por sua vez, depois de analisar o problema dá o seu veredicto.

Mas o país vai assim. Assiste-se ao falhanço de todas as metas negociadas no memorando de assistência financeira, apesar da enorme e desproporcionada carga fiscal a que estamos todos sujeitos, mas, mesmo assim, o ministro das finanças vem dizer que não, que acertamos em quase todas e as que falhamos foi, mesmo assim, por muito pouco.

Mas para esta confusão toda contribuem os membros deste governo e todos os líderes europeus bem como as organizações internacionais que não se cansam de dizer isto e aquilo e depois o seu contrário.

Merkel veio dizer que vamos no bom caminho. Depois vem a diretora do FMI dizer que é preciso prudência. Mais tarde a OCDE diz que não vamos conseguir. O Presidente do BCE vem dizer que o pior já passou. Depois vem Paulo Portas afirmar que já passamos o meio da ponte. Mais tarde ouvimos Merkel dizer que, afinal, está descontente com a prestação dos países periféricos, como Portugal. Enquanto isto Passos Coelho tem a certeza que este é o caminho certo, mesmo assistindo ao desmantelamento de empresas e destruição de emprego a cada dia que passa.

Não haja dúvida que a chanceler da Alemanha concorda com a gigantesca carga fiscal que os países em dificuldades impõem aos seus cidadãos. Essa tem sido, de facto, a sua receita.

A senhora Merkel tem confirmado que esta é a via para a recuperação e não se cansa de propalar essa ideia em todas as aparições públicas que faz fora do seu país, mas quando fala para os seus concidadãos, para os seus eleitores, a sua opinião muda completamente. Lá, no seu país, Merkel descarta qualquer aumento da carga fiscal para a classe média, que considera o motor do desenvolvimento. O que se percebe é que na Alemanha a senhora Merkel quer uma classe média e média alta pujante para estimular o consumo e assim proporcionar o crescimento. Para os outros a receita é precisamente o contrário: o empobrecimento da classe média que, por sua vez, diminui o consumo, contribuindo, assim, para a destruição de mais empregos.

Estas diferenças de entendimento, estas interpretações dúbias não faziam parte do pensamento dos construtores da Europa, com toda a certeza.

14 de dezembro de 2012

Alegre e conversador


Manuel da Ajuda Pereira Lima

(08/11/1943 – 01/03/2007)

O isolamento das nossas ilhas sempre foi combatido com fortes tradições muito enraizadas no nosso povo. Na Graciosa a música sempre ocupou um lugar de destaque no panorama cultural.

Antigamente existiam alguns divertimentos, como os diversos jogos de cartas e dominó, mas pelos bailes os Graciosenses deixavam tudo. Novos e velhos, todos gostavam de bailar e de cantar. Era desta maneira salutar que o nosso povo se divertia e confraternizava.

Nos bailes de carnaval, na matança do porco ou integrando grupos folclóricos, habituamo-nos a vê-los de viola a tiracolo, dedilhando e cantando músicas do reportório popular. Eram homens e mulheres, quase sempre bons foliões, que ocupavam os tempos que restavam da dura labuta do dia-a-dia divertindo os outros e fazendo o que mais gostavam: tocar.

O Manuel da Ajuda era um deles. Tocava muito bem a viola da terra. É impressionante ver tocar este instrumento. Com 12 de cordas (existe também uma versão com 15 cordas), a viola da terra emite uma sonoridade peculiar que se conjuga harmoniosamente com outros instrumentos musicais.

A aprendizagem da viola da terra era feita de um modo empírico, vendo os outros ou experimentando uma e outra vez, com muita persistência e dedicação. O Manuel da Ajuda também se fez executante assim, depois do senhor Manuel do Júlio lhe ter transmitido o gosto por este instrumento e lhe ter dado os primeiros ensinamentos.

A viola da terra é tipicamente Açoriana. Embora muito semelhante ao violão, é mais pequena e tem dois corações na boca, com as pontas opostas, que, dizem os entendidos, representam o amor entre duas pessoas que estão separadas fisicamente.

Desde o início que o Manuel da Ajuda tocou nas danças do senhor Francisco Sampaio. Foi membro do Grupo Folclórico da Casa do Povo da Praia. Tocava também em grupos de Reis pelos caminhos da Graciosa, visitando, nas frias noites de inverno, as casas em festa, espalhando alegria e boa disposição a quem os recebia. Era também muito solicitado para animar os bailes de carnaval com as modas de viola.

Em 1988 participou num concerto com 24 violas da terra, na freguesia de Guadalupe, dirigido pelo incontornável Padre Simões Borges.

Era agricultor de profissão. Vivia do rendimento que lhe dava o gado bovino que pastoreava nas suas terras.

Gostava muito de pescar. Dizem os mais próximos que o Manuel da Ajuda tinha errado na profissão, pois gostava tanto do mar que deveria ter sido pescador. Aos familiares e amigos terá dito que quando chegasse a idade da reforma iria dedicar-se à pesca. Infelizmente não chegou a gozar esse privilégio porque a morte, com os seus ditames, roubou-lhe esse sonho.

Era muito alegre e divertido e um bom conversador. Com os seus colegas da música, o Manuel Zagaia e o José Helder, entre outros participava em tertúlias que eram momentos de pura diversão, como acontecia frequentemente na tasca do senhor Álvaro.

13 de dezembro de 2012

Mais um jornal que morreu


O jornal “A União” desapareceu como diário, talvez na qualidade de mais uma vítima desta conjuntura económica desfavorável que atravessamos. Depois de 120 anos a escrever a história e histórias dos Açores, atravessando momentos altos e outros baixos, certamente, encerra assim, sem mais nem menos, um dos ícones da comunicação social da nossa região.

Nesta quadra de Natal, sempre propícia a encontros com familiares e amigos e em que as conversas são, quase sempre, alinhadas por lembranças alegres da nossa infância, recordo este diário vespertino que sempre cobriu a velha secretária lá de casa.

O carteiro deixava na nossa residência um molhe com uma ou duas semanas de edições do jornal, normalmente atadas com um barbante cor de canela. Chegavam-nos desatualizados, mas valia a pena. Abria-nos a janela do mundo.

Foi este jornal que acolheu um suplemento sobre a Graciosa. Foi neste jornal que me habituei a ver e a ler artigos de meu pai ou títulos de secções, ou do próprio jornal, desenhados pelo seu punho. Foi também neste jornal que publiquei pela primeira vez, uma crónica desportiva, no caso, que esperei ansiosamente apenas para a reler e apreciar, embevecido, o meu nome escrito no seu rodapé.

O seu desaparecimento é uma notícia triste para todos nós e ainda para mais recebida nesta altura que devia ser de alegria e de confraternização, altura, também, em que há mais harmonia e em que pensamos mais nos outros.

É triste porque ficamos todos mais pobres. É muito mais triste, ainda, para aqueles que perderam o seu ganha-pão, apesar de terem dado tudo de si para que esta situação nunca acontecesse.

Assim morreu mais um jornal. A nossa democracia ficou muito mais pobre.

6 de dezembro de 2012

Uma receita que não serve


A receita que o Governo da Republica nos quer impor para a resolução desta crise não está a resultar, já sabemos. O valor da redução das despesas neste momento só serve para pagar juros a taxas altas que nos são impostas pelas instâncias internacionais que nos emprestam o dinheiro.

Não há dúvidas que, hoje, os portugueses estão muito mais pobres, com milhões a viver no limiar da pobreza e com o aparecimento, todos os dias, de novos pobres. O défice teima em não diminuir, apesar de sermos massacrados todos os dias como mais impostos, mais cortes e com o anúncio de mais despedimentos. Ainda assim e apesar de todo este sufoco a nossa dívida continua a aumentar, sem data anunciada para estancar.

Fico ainda mais preocupado, quase sem reação, quando oiço, nas visitas que os nossos governantes fazem a Bruxelas ou a Berlim, os líderes europeus a tecerem elogios a esta via, chegando mesmo a referir que vamos no bom caminho. Os portugueses acham que este governo nos está a levar, não por um caminho, mas antes por um beco sem saída, ao contrário desses branqueadores do sofrimento dos outros.

Dizem os entendidos que bastava, por exemplo, pagarmos a mesma taxa de juro que a Alemanha paga para gerir a sua dívida pública, para resolvermos esta situação aflitiva com que nos encontramos.

É claro que esta solução nunca interessará aos poderosos e percebemos bem porquê. Esses países continuarão, assim como está, a usufruir de taxas vantajosas para gerir as suas dívidas, algumas semelhantes à nossa, enquanto nós temos de nos “virar” para cumprir as nossas responsabilidades.

Será este, então, o bom caminho que nos indicam? Não creio.  

30 de novembro de 2012

Herói que lutou pela liberdade e democracia


 
João Silveira Bettencourt

(04/04/1896 – 12/11/1980)

João Silveira Bettencourt era o filho mais velho de Manuel Maria Bettencourt e de Maria das Neves Silveira Bettencourt. Nasceu na freguesia da Luz e, por ser bom aluno, sempre quis estudar, apesar de seu pai ser um modesto agricultor e os seus dois irmãos quererem seguir as pisadas de seu pai.

Como era habitual naquele tempo, para completar os seus estudos teve de se deslocar para Angra do Heroísmo para aí frequentar o Liceu. Mais tarde acaba por tirar o curso de Professor na Escola do Magistério Primário daquela cidade, profissão que nunca chegou a exercer.

Ofereceu-se para cumprir o serviço militar, tendo ingressado na Escola de Oficiais. É aqui que descobre a sua verdadeira vocação.

Foi Comandante da Guarda Fiscal, na cidade da Horta, e, depois, segue para uma comissão em Lisboa, com a patente de Tenente da Guarda Nacional Republicana, ficando a residir no Quartel do Carmo.

É a partir daqui que o Tenente João Silveira Bettencourt inicia um processo de luta pela democracia e pela liberdade, que lhe terá custado 3 anos, 1 mês e 1 dia de deportação e de prisão. Este período da sua vida, de provação e cárcere, foi minuciosamente registado num documento a que deu o nome de “Diário de um Deportado Vítima do Totalitarismo da Época”.

Em março de 1926 o Tenente João Silveira Bettencourt decide revoltar-se devido à situação social do país e aos desentendimentos existentes entre os partidos políticos de então. Os revoltosos instalam o seu quartel-general na Travessa do Salitre. Os comandos revolucionários são constituídos pela Companhia da Estrela da Guarda Nacional Republicana, a Companhia das Janelas Verdes, a Companhia de Alcântara e a Secção de Metralhadoras Pesadas, comandadas pelo Tenente João Silveira Bettencourt.

No dia 9 de fevereiro do ano seguinte, os revoltosos rendem-se, por volta da 20 horas, porque, como escreveu,” lhe faltaram as munições e por ser impossível a meia dúzia de gatos pingados vencermos toda a guarnição de Lisboa, a maior parte toda comprometida”.

É preso, pela primeira vez, por dez dias, três deles incomunicável como era praxe. Descreve esse momento no seu diário com alguma frieza, afirmando “Como é horrível experimentar, sem ser criminoso, por dez dias, a vida de penitenciário. Só faltava o número nas costas! Tínhamos chamadas, portas fechadas todas as noites pelos guardas, etc., etc.”.

A 20 de fevereiro de 1927 sai da cadeia e a bordo do N/M Lourenço Marques é levado até à Guiné Portuguesa, viagem que, curiosamente, teve a sua primeira escala na Ilha Terceira, muito perto da sua terra natal.

Na Guiné esteve deportado em Batafá, Bissau e Bolama. Detestou esta terra e isso está bem patente no seu diário quando escreveu “Estive na maldita Guiné de mexericos, intrigas e invejas 15 meses e 25 dias”.

A 27 de junho de 1928 inicia, finalmente, a viagem de regresso aos Açores, passando pelo Funchal onde se reúne com a esposa e o filho. Curiosamente a sua família ficou sempre no Quartel do Carmo, protegida pelos seus camaradas de armas. Chega à Ilha Graciosa, para onde foi mandado residir, a 14 de julho desse mesmo ano.

A 2 de abril de 1929 embarca para Lisboa, por ordem do regime, a fim de ser julgado. A sentença atribui-lhe 12 meses de prisão e a igual tempo de multa a 2$50 por dia. Cumpre a prisão na Torre de S. Julião da Barra de 4 de maio de 1929 a 11 de julho de 1930.

Depois de cumprida a reclusão regressa à sua terra natal, onde chega a 15 de agosto de 1931.

Nesse mesmo ano, e por continuar insatisfeito com o regime da altura, participa na Revolta dos Açores, tomando as ilhas Graciosa, S. Jorge e Pico, a bordo do rebocador Milhafre com peças de artilharia amarradas com arames. Saíram do Porto da Folga até Santa Cruz, seguiram para Angra do Heroísmo, onde os revoltosos foram muito bem recebidos, depois para a Velas e Cais do Pico. Mais uma vez teve de se render “sem condições por falta de meios e apoio militar vindo de Lisboa”.

Foi novamente deportado, desta vez para Cabo Verde, onde permaneceu 7 meses e 20 dias. Em janeiro de 1932 regressa à Ilha Graciosa, tendo-lhe sido aplicada a medida de residência fixa.

Mais tarde regressa à cidade da Horta, onde “assiste” à revolução de 25 de Abril de 1974 pela rádio. Dizem os seus familiares que ao conhecer o desenlace da revolução dos cravos “chorou como uma criança pequena”.

Em 1975 é promovido a Capitão e passado à reserva, facto que o desagradou imenso. A luta que encetou contra a ditadura e o desprendimento que sempre demonstrou quando lhe eram oferecidos cargos em troca do seu silêncio, exigiam outro tratamento por parte do Estado.

Nesta cidade dedicou-se à contabilidade. Fez parte, também, dos corpos sociais e foi sócio efetivo de inúmeras instituições de solidariedade social, desportivas e culturais, como o Hospital da Santa Casa da Horta, o Amor da Pátria, o Lar das Criancinhas da Horta, o Grémio Literário, a Artista Faialense, a Filarmónica Artista Faialense, a Filarmónica a União a Filarmónica da Praia do Almoxarife, do Angustias Atlético Club, do Fayal Sport Club, do Sporting Clube da Horta e do Clube Naval da Horta, entre outros. Foi, também, sócio da Liga Portuguesa dos Direitos do Homem.

Escreveu também para vários jornais com a Gazeta de S. Miguel, o Alma Nova e foi redator do jornal republicano Pátria Livre, além de colaborações nos jornais locais. Gostava também de escrever poemas.

Diz quem o conheceu que era um excelente conversador, mas nunca sobre si ou sobre a sua intensa atividade política, tal era a sua humildade. Apesar de marcado por anos de sofrimento era muito afável no relacionamento com os outros. Além da coragem que colocou na sua luta pela liberdade e pela democracia o Capitão João Silveira Bettencourt era conhecido por ser muito íntegro e sensato.

Nota: nesta simples crónica utilizei os dados mais marcantes do imenso diário que o Capitão João Silveira Bettencourt deixou e também algumas anotações feitas pelo seu filho e pelo seu neto, que me foram gentilmente cedidas.

29 de novembro de 2012

Contra tudo e contra todos


O Orçamento Geral do Estado para 2013 foi aprovado esta semana na Assembleia da República. Ao que dizem os jornalistas e muitos especialistas na matéria, alguns da área política da maioria, este é o pior Orçamento de que há memória.

Na discussão deste importante documento verificou-se que os partidos desta coligação, que governa o país, cortaram a direito e fizeram orelhas moucas aos que escolheram as ruas para demonstrarem o seu descontentamento por estas políticas e também à oposição, que apresentou algumas propostas no sentido de aligeirar este sufoco fiscal a que vamos estar expostos no próximo ano, mas sem qualquer resultado.

Tem crescido o número de pessoas idóneas, de todos os quadrantes políticos incluindo os partidos que estão no poder, que se tem insurgido contra estas medidas ao ponto de as considerarem inconstitucionais e apelarem ao Presidente da República no sentido deste vetar o Orçamento, coisa que ninguém acredita, tal a passividade que o mais alto magistrado da nação tem demonstrado nos últimos tempos.

Os novos escalões do IRS vão provocar um aumento enorme de impostos que vamos começar a sentir já no início do próximo ano quando forem aplicadas as novas tabelas de retenção na fonte. O Governo da República fez algumas manobras de diversão no sentido de disfarçar este brutal aumento da carga fiscal, mas em 2013 só irá encontrar mais contestação e mais desilusão devido a este aumento desmesurado e disfarçado.

Os subsídios por morte foram cortados a metade do atual. O subsídio por doença será reduzido tal como o subsídio de desemprego, que será de mais difícil acesso. Alguns pensionistas pagarão mais impostos do que os trabalhadores no ativo.

E mesmo assim a economia vai encolher, o défice vai aumentar, o desemprego continuará a crescer e as famílias a empobrecer.

22 de novembro de 2012

Políticas de Pescas e Valorização do Mar



Senhora Presidente da Assembleia

Senhoras e Senhores Deputados

Senhor Presidente do Governo

Senhora e Senhores Membros do Governo

Na minha primeira intervenção nesta que é a X Legislatura quero aproveitar a oportunidade para a felicitar, Senhora Presidente da Assembleia, e para lhe desejar os maiores sucessos na condução dos trabalhos desta casa que é, no fundo, a sede da autonomia.

 A si, Senhor Presidente do Governo, também lhe desejo as maiores felicidades na execução do Programa do XI Governo da Região Autónoma dos Açores, que agora nos encontramos a discutir, para bem de todo o povo açoriano.

A economia do mar é uma prioridade estratégica para a região, no conjunto dos seus sectores e subsectores. É geradora de emprego e de mais-valias, mas o seu potencial de crescimento é enorme a curto e médio prazo.

Os três milhões de metros quadrados da plataforma continental ao redor do arquipélago dos Açores para além de representar novas oportunidades representam também uma responsabilidade acrescida na proteção e no aproveitamento dos recursos, quer vivos, quer minerais ou energéticos.

A abordagem das questões ligadas ao mar assume, nos tempos que correm, uma outra dimensão, muito diferente da visão do passado, que era assente em apenas três vertentes da sua utilização: os transportes, a pesca e a extração de inertes.

Ao contrário do que era tido como, de todo, desconhecido, hoje sabe-se que o mar dos Açores encerra uma série de recursos naturais importantes e por isso há a necessidade de garantir que sejam explorados de forma a não por em perigo o equilíbrio ambiental e tragam benefícios económicos à região, não só por via do valor acrescentado, mas também pelos avanços tecnológicos que a economia do mar pode trazer.   

Também hoje temos consciência das ameaças existentes sobre os recursos vivos, provocados pela exploração pesqueira e a poluição, ambas causadas pela intervenção humana, que podem por em causa espécies e habitats.

Estas duas premissas indicam o caminho a seguir.

Por um lado temos de avançar para novos usos do mar dos Açores em áreas como a ciência, a biotecnologia, a energia, o turismo e os recursos naturais.

Por outro lado apresentam-se-nos importantes desafios na gestão dos recursos piscícolas que nos levarão, indubitavelmente, à diversificação, à gestão cuidada das pescarias, à valorização do pescado e à constituição e regulamentação de zonas de proteção.

Senhora Presidente da Assembleia

Senhoras e Senhores Deputados

Senhor Presidente do Governo

Senhora e Senhores Membros do Governo

Nos fundos do mar dos Açores e em volta das fontes hidrotermais foram detetados sulfuretos polimetálicos, muito ricos em cobre, zinco e ferro, e jazidas de hidratos de metano, uma potencial fonte de energia para o futuro. A introdução de inovação tecnológica no aproveitamento destes recursos poderá gerar progresso nas nossas ilhas.

A pesca desportiva, a navegação de recreio, o mergulho, a observação de cetáceos e de aves marinhas constituem atividades componentes da indústria de animação turística que encerram potencial de crescimento e com capacidade para captar mais investimento e criar emprego.

A pesca tem um impacto socioeconómico importante nos Açores, porquanto representa cerca de 20% das exportações e 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB), absorvendo mais ou menos 5% da população ativa. 

Com as oscilações verificadas em algumas pescarias, nomeadamente na pesca demersal – conforme é notório nos casos do Boca Negra, Congro, Goraz, Pargo e Peixão – é fundamental diversificar as capturas, pescando mais longe e mais fundo, agora que as embarcações estão melhor preparadas para isso, com boas condições de habitabilidade e de segurança, fruto do investimento feito na renovação da frota de há dezasseis anos a esta parte.

É importante diversificar a própria atividade, enveredando por novos aproveitamentos, nomeadamente na pesca turismo.  

A formação dos profissionais do mar é, também, fundamental para a aquisição de novas competências e reciclagem de conhecimentos para a alteração do paradigma que se exige neste momento.

A forma descentralizada como a formação está organizada permite melhores índices de sucesso, porque a leva até todas as ilhas da região. O grau de mestrança terá, num futuro próximo, o seu enquadramento no Centro de Formação de Marítimos dos Açores, com conteúdos transversais a outros utilizadores do mar.

Pelas razões apontadas anteriormente o sucesso das pescas não passa pelo aumento do esforço ou sobre-exploração dos recursos, passando antes pela valorização do pescado, o que traz novas responsabilidades que terão de ser resolvidas por via da formação dos profissionais. Boas práticas no manuseamento dos produtos da pesca desde a captura, passando pelo acondicionamento e embalamento, até ao seu escoamento e entrega ao cliente final, trarão, certamente, mais-valias importantes. A reforma e o reforço da rede de frio que está em curso e que se iniciou na última legislatura, trará, com toda a certeza, novas capacidades para atingir esse desiderato.   

Senhora Presidente da Assembleia

Senhoras e Senhores Deputados

Senhor Presidente do Governo

Senhora e Senhores Membros do Governo

A Região Autónoma dos Açores está e estará, num futuro próximo, sujeita a grandes pressões todas no sentido de redução de direitos sobre os seus recursos.

Advinham-se, por isso, enormes desafios para os Açores nos próximos tempos. A firme recusa em “embarcar” em ideias centralistas vindas de S. Bento ou de Bruxelas tem de ser a nossa bandeira.

A defesa da gestão açoriana dos recursos minerais do fundo do nosso mar é uma prioridade. Por outro lado, na revisão da Política Comum de Pescas é fundamental que vingue a posição assumida pelos Açores, que defende o controlo nacional da área entre as 100 e as 200 milhas, mecanismo que, como se sabe, perdemos em 2004 com o Regulamento das Águas Ocidentais.

O poeta Manuel Alegre, no poema Tanto Mar, fez justiça e sintetizou muito bem este azul imenso, que muitas vezes nos separa, mas que também nos une, quando escreveu:

“Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores”.

Disse.

Horta, Sala das Sessões, 22 de novembro de 2012.

O Programa do novo Governo


Estamos a discutir, e haveremos de votar ainda hoje, o Programa do XI Governo Regional, na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, aquela que é a sede da autonomia.

Neste programa estão plasmadas todas as promessas eleitorais assumidas no desenrolar da campanha eleitoral, o que é raro. Há quem não goste e tenha declarado que irá votar contra, mas se calhar votariam contra de qualquer modo.

Convenhamos que, no fundo, foram estas as promessas que foram apresentadas aos eleitores na campanha eleitoral e foram também essas as que receberam o apoio da maioria esmagadora do eleitorado açoriano.

O facto de se verter os compromissos assumidos neste importante documento, que, no fundo, irá orientar a ação deste Governo nos próximos quatro anos, é uma atitude corajosa e um sinal de que, tal como tem sido hábito nos últimos dezasseis anos, o contrato eleitoral celebrado com o povo açoriano, em outubro passado, é para ser cumprido.

Apresentado num momento de grave crise económica em que os agentes económicos se veem espartilhados pela diminuição do consumo imposto pelos cortes vindos de Lisboa e pela falta de financiamento bancário, este Governo coloca neste programa um grande destaque nas questões sociais e nos apoios às empresas e tudo porque é o tecido empresarial que cria riqueza e, por conseguinte, emprego.

Este programa põe, assim, as pessoas no centro das preocupações desta maioria. O Governo dos Açores pretende “proteger os fragilizados, apoiar os necessitados e estimular quem quer crescer e inovar”.

É um bom começo deste novo ciclo.

16 de novembro de 2012

Exigente, honesto e bondoso


Tomaz de Sousa da Luz

(13/11/1922 – 26/12/1977)

O senhor Tomaz era um homem que dava nas vistas. Era bastante alto e com uma compleição física própria de um homem do mar. De facto era no mar que trabalhava e era o mar que lhe dava o sustento.   

Naquele tempo os navios de carga alternavam entre os portos de Santa Cruz e da Praia, de modo a agradar a todos. Quando o mar pregava uma partida restava ao comandante do navio derivar para o porto da Folga ou então o cancelar a operação.

Habituei-me a ver o senhor Tomaz num frenético vai vem nos dias de navio em Santa Cruz. Era ele que coordenava, a partir do Cais Novo, a ida e a vinda dos batelões, que, rebocados pelas lanchas, se encostavam no bojo dos navios e aguardavam pacientemente, baloiçando ao sabor das ondas, as mercadorias que eram arriadas suavemente pelos paus de carga existentes a bordo. Era dele, da sua experiência e sabedoria, que dependia a eficiência desta operação tão importante para a economia da ilha.

Está na origem, já depois da revolução de 1974, da fusão destes trabalhadores dos batelões e das lanchas com os estivadores e é nessa altura que assume o cargo de encarregado geral da estiva, passando assim a coordenar toda a operação de carga e descarga dos navios que demandavam os portos da Graciosa.

Para além desta atividade o senhor Tomaz era um reputado e exímio pescador. Foi proprietário, primeiro, do Tomaz Luz e, depois, do Valdemiro Luz, ambos de boca aberta e dedicados à pesca artesanal. O barco Tomaz Luz foi destruído, juntamente com um barco do senhor Casimiro, num dia de mau tempo, arrastados para o mar quando se encontravam varados no Cais Novo. Nesse dia escapou por um triz o barco do mestre António “Faroleiro” que se encontrava mesmo ao lado destas duas malogradas embarcações.

Mas foi na caça à baleia onde se destacou mais. Na baleação, como era normal e até recomendável - porque nestas coisas a experiência e a coragem é que capacitavam as pessoas - fez um pouco de tudo. De simples tripulante e remador, função que exerceu durante alguns anos, passou a trancador em 1948 depois de obter a carta de trancador ou arpoador de cetáceos, que custou, na altura, 81$00. Em 1965, depois de tirar a respetiva carta de mestre baleeiro cujo custo se cifrou em 86$90, passa a ser o oficial do bote São Salvador, pertença de uma companhia baleeira da Graciosa. Os valores pagos pelas licenças eram muito elevados, daí se perceber a importância social que estas promoções deveriam ter naquele tempo.

O seu porto e de saída e de entrada era o da Calheta, em Santa Cruz. Era ao largo deste porto que a Estefânia Correia apanhava o bote comandado pelo mestre Tomaz e era aí que o deixava quando terminava a faina.

Depois do sinal dado pela vigia da baleia do Monte da Ajuda, com um foguete ou com a buzina do Mazini (barco que naufragou no início do século XX no Calhau Miúdo), o mestre Tomaz e os seus homens deixavam tudo e corriam até à Calheta. Sem tempo a perder tiravam o bote do barracão, que hoje faz parte do Museu da Graciosa, e faziam-no escorrer até à água passando pelos paus previamente untados. Era uma correria para se chegar a tempo ou não fosse a baleia desaparecer dos binóculos do vigia. No regresso, quer corresse bem ou mal, lavavam o bote, estendiam as linhas no cais da Alfândega para secarem e faziam o percurso inverso em direção ao barracão.

Certo dia o mestre Tomaz, já depois de trancado o cachalote, percebe que o animal se deixava conduzir e avisa os seus homens que iria levá-lo até ao interior do porto da Calheta, para aí consumar a matança. Não conseguiu os seus intentos, mas falhou por muito pouco, pois o cachalote acabou por morrer um pouco mais ao lado, nos Terreiros.

A meados dos anos 70, um cachalote, depois de trancado e de tanto andar às voltas, virou-se repentinamente em direção ao São Salvador e com um golpe partiu o bote e fez todos os homens caírem ao mar, que ficaram ali, entre os destroços e o animal, até serem socorridos pela Estefânia Correia. Para além do mestre Tomaz, oficial do bote, estavam também o Armandino, trancador, o João “Bota”, o Marcelo, o Valter Bettencourt, o Urialdo Veiga e o José Manuel Quadros. Depois deste acidente o São Salvador foi para o Pico e esta tripulação passou a balear no Restinga.

Os que trabalharam com o mestre Tomaz dizem que era um homem muito rigoroso. Exigia respeito e respeitava os seus companheiros de trabalho. Os mais novos tratavam-no como um segundo pai, tal era a consideração que tinham por ele. Era dotado de grande coragem e com invulgar capacidade para tomar decisões difíceis, muitas vezes necessárias nesta dura vida de marítimo.

Era também um católico convicto. Não se coibia de tirar o boné e fazer uma oração sempre que passava pela igreja da Boa Nova, como que a pedir ou a agradecer a proteção de São Pedro Gonçalves, padroeiro dos homens do mar. No seu bote e no seu barco eram sempre visíveis símbolos religiosos que o confortavam nas horas mais difíceis.

A bondade era também uma das suas grandes qualidades. Gostava de ajudar os outros. Sempre que a pesca rendia pouco abdicava da soldada a que o barco tinha direito para não penalizar ainda mais a sua companha. Sabe-se também que quando um dos seus homens deixou de poder trabalhar no mar continuou a reservar-lhe uma soldada para deste modo o ajudar.

Nutria grande simpatia pelo Graciosa Futebol Clube, clube onde desempenhou vários cargos nos órgãos sociais.

O senhor Tomaz merece ser recordado pelas excelentes qualidades profissionais que demonstrou ao longo de uma vida ligada ao mar e também pelas qualidades humanas que sempre revelou. O seu caráter de homem exigente, honesto e bondoso fizeram dele uma pessoa admirada e respeitada na Ilha Graciosa.

15 de novembro de 2012

A visita


Angela Merkel veio em visita oficial a Portugal. Foi uma visita aparatosa devido à segurança que esse momento envolveu, apesar das escassas cinco horas que durou a sua passagem pelo nosso país.

É claro que esta visita gerou uma grande onda de indignação junto dos portugueses. Ninguém ficou indiferente e foi clara a colagem que se fez da chanceller à austeridade que demanda neste país.

Esta colagem, justa, com é vista pelo comum dos portugueses, ou não, como defendem os membros do governo de Portugal, decorre das políticas que a senhora Merkel tem imposto à europa e aos europeus.

Disse um pouco antes de desembarcar em Portugal que nunca impôs austeridade a nenhum país, no mesmo tom com que disse, logo a seguir, que estávamos no bom caminho. Esta postura, mesmo para os mais distraídos, é um claro apoio a estas medidas draconianas que vão destruindo o nosso país. É um claro apoio a estas medidas que vão muito mais além das propostas pelo memorando de entendimento que estabelecemos com organizações internacionais.

É por essas e por outras que os portugueses sentem que a sua soberania está ameaçada e que a democracia se encontra em risco como nunca esteve desde 1974.

É por essas e por outras que o povo se indigna e enche ruas e praças numa clara demonstração do desagrado que sente por estas políticas, como aconteceu ontem na greve geral.

Enquanto isto o primeiro-ministro de Portugal, Passos Coelho, continua a acreditar, cada vez mais sozinho, que esta política de empobrecimento da população é a via para o sucesso, enquanto o país se afunda cada vez mais, como confirmam os indicadores.

8 de novembro de 2012

O início de um novo ciclo


Esta semana tomou posse o XI Governo Regional dos Açores em sessão solene, um dia depois da instalação da nova Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, resultante das eleições de 14 de outubro de 2012.

Tal como o prometido na campanha eleitoral, Vasco Cordeiro nomeou um governo mais pequeno, com maiores cortes do que o inicialmente previsto, mais ágil e menos burocrático, com o objetivo de o tornar, afinal, mais perto dos cidadãos.

É o início de um novo ciclo que, indubitavelmente, terá pela frente novos desafios que se adivinham para os próximos tempos e que se preveem, também, difíceis e incertos, exigindo de quem nos governa rigor nas contas públicas e prudência nas opções políticas.

Os açorianos e os seus dirigentes saberão, como sempre souberam, ultrapassar as dificuldades que surgem, umas impostas pela natureza incontrolável e incontornável e outras fabricadas por esta crise económica. Os açorianos, que cresceram aprendendo a seguir em frente apesar das tempestades e dos vulcões, saberão, com toda a certeza, vencer, mais uma vez, estes desafios provocados pela situação económica do nosso país.

Neste dia Vasco Cordeiro, naquela que foi a sua primeira intervenção como Presidente do Governo da Região Autónoma dos Açores, fez um apelo à participação de todos, ao diálogo e à concertação, dirigindo-se aos partidos políticos e movimentos sociais, no sentido de unirem esforços para defenderem de uma forma unissonante a Autonomia dos Açores, para, deste modo e dispondo dos mecanismos que esta nos proporciona, minorar os efeitos desta enorme crise de contornos desconhecidos.

Vasco Cordeiro, também nesta comunicação, avançou com as três ideias que conduzirão este governo: a criação de emprego, o reforço do apoio às empresas e o auxílio às famílias.

Estas importantes referências vêm, de certa maneira, contrariar as opções do Orçamento de Estado para 2013 que impõe mais austeridade e mais impostos e que impede a criação de riqueza e, por conseguinte, de emprego.

É caso para dizer que o XI Governo dos Açores, liderado por Vasco Cordeiro, não vai deixar ninguém para trás.

1 de novembro de 2012

O Orçamento do Estado para 2013


Nestes dias de discussão do Orçamento Geral do Estado fomos surpreendidos com novo aumento de impostos. É mais uma situação que este governo da república confrontou os portugueses quase à socapa.

Agora compreendo Vitor Gaspar quando se refere ao povo português como o melhor do mundo. Esta sua apreciação, infeliz a meu ver, pode confortá-lo neste momento em que todo o país está contra esta política de empobrecimento e da usurpação de direitos adquiridos ao longo destes anos da democracia, mas não poderá fazê-lo baixar a guarda, porque, e isso já se viu nas ruas e nas praças deste país, o povo está a chegar ao seu limite. O povo não pode mais. Não pode ser sujeito a mais impostos nem quer ouvir esta gente a enterrar cada vez mais a esperança, que dizem ser a última a morrer.

Não há dúvida nenhuma que esta via para resolver a crise não interessa a ninguém. Diminuir o défice contando apenas com a carga fiscal, esquecendo o crescimento não nos leva a lado nenhum. Não sou eu a dizer isto, são os especialistas de todas as áreas políticas que o afirmam à boca cheia. Só este governo continua a teimar nesta receita de emagrecimento da economia, na redução de direitos e do consumo e no desmantelamento das pequenas e médias empresas que, a um ritmo alucinante, atiram para o desemprego centenas de cidadãos a cada dia que passa.

Ouvimos este governo da república falar em cortar nas gorduras do estado e só o vemos, como resposta, aumentar novamente os impostos ou atacar nos apoios sociais. Cortar nas gorduras do estado não é empobrecer ainda mais os portugueses.

Depois de mais de uma década a reduzir as desigualdades e a pobreza, vem agora este governo, com o orçamento para 2013, tal como aconteceu com o do corrente ano, ignorar todo o esforço que foi feito na tentativa de transformar Portugal num país mais justo e mais solidário.

Não há dúvida que esta vontade do PSD de Passos Coelho em refundar as funções do estado só deverá querer dizer mais impostos e menos estado social.

Só nos resta fazer a pergunta: até aonde nos querem levar?

25 de outubro de 2012

O vencedor


As eleições do passado dia 14 de outubro determinaram um vencedor: Vasco Cordeiro. Com uma conjuntura externa muito difícil a marcar a campanha e, ainda por cima, surgindo como substituto de Carlos César que, como se sabe, comandou sabiamente os destinos dos Açores nos últimos 16 anos, Vasco Cordeiro soube ultrapassar o cenário das dificuldades impostas pela política de austeridade que vem da república e propôs ao eleitorado um novo ciclo para vencer novos desafios.

A conquista desta clara maioria absoluta estará ligada, em primeiro lugar, ao modo como Vasco Cordeiro geriu a sua campanha eleitoral. Rejeitou vivamente enveredar pela promessa fácil ou pelo ataque aos seus opositores diretos. Esta postura responsável deu-lhe tempo e, sobretudo, credibilidade para passar aos açorianos as suas propostas para os próximos quatro anos.

Esta vitória do Partido Socialista e de Vasco Cordeiro foi, também, a maneira que os açorianos encontraram para rejeitar as políticas de austeridade que este governo da república do PSD e do PP nos impõe.

Como é evidente também terá contribuído para esta vitória a boa governação do Partido Socialista nos últimos 16 anos, uma governação inovadora e progressista, que teve o condão de gerir bem as suas contas, como é o exemplo da dívida pública da região que se cifra em 18% do PIB, enquanto a dívida da república já vai nos 123% do PIB.

Esta boa governação permitiu aos Açores um crescimento superior à média europeia e manter a região com a segunda menor taxa de desemprego de Portugal, apesar do momento conturbado que atravessamos provocado pela falta de liquidez da banca e das empresas, processo que, como se sabe, teve origem fora dos Açores.

Sem dúvida que o povo dos Açores foi, mais uma vez, sábio na hora de decidir.

27 de setembro de 2012

Disparates e desespero


Isto deve estar muito mau para Berta Cabral. Nos últimos tempos apressou-se a prometer tudo a todos e agora nas visitas que faz por essas ilhas leva uma personagem de serviço que se limita a reproduzir o que os séquitos daquela líder querem ouvir.

Desde a inauguração do novo Centro de Saúde - espaço que Marques Mendes considerou como uma clínica privada talvez por ser uma estrutura de qualidade a que não deve estar habituado - que a oposição local elegeu aquela entidade para atacar como nunca se viu.  E ele, tal como um subserviente desta malta que por aqui anda, fez a figura que nem eu esperava de um comentador político de um canal nacional que está, de facto, a perder audiência.

Ninguém conseguiu perceber como esta figura foi capaz de fazer uma apreciação tão crítica sem saber do que falava. Só por maldade… Será que ele viu a Graciosa, será que ele sabia como era a Graciosa nos tempos do seu partido?

Perante a obra feita, perante um governo que apesar da crise nacional consegue manter apoios sociais a quem mais precisa, perante um governo regional que recusa aceitar o ataque do governo da república aos que menos podem, resta apenas a esta oposição optar pela maledicência.

Com este nervosismo todo de Berta Cabral e dos seus acompanhantes esqueceram-se do essencial: antes de criticar deveriam procurar conhecer e ver como funcionam as coisas. Esta ação talvez servisse para não dizerem disparates sobre o que não conhecem e talvez passassem a ter mais cuidado quando recebem informações de “zelosos” funcionários que não sabem distinguir o seu trabalho da sua intervenção política.

Tenho a certeza que se Marques Mendes, entre a tourada e a sardinhada, tivesse falado com outras pessoas e se procurasse conhecer esta ilha pela boca de outros que não aqueles que o rodearam, talvez ficasse a saber que a Graciosa e os Açores são bem servidos pelo serviço regional de saúde que é, em muito, superior ao do continente. Talvez ficasse a saber que no seu partido há quem distribua empregos pelos seus familiares, diretos e indiretos. Finalmente, poderia também aferir que outras famílias da sua área política abundam em alguns serviços da ilha. E mais… nesta visita Berta Cabral, muito preocupada com o resultado da última sondagem, acabou por fazer aquilo que acusa os outros: ofereceu cargos de chefia por um punhado de votos.

É o desespero.

20 de setembro de 2012

Pois é...


Na segunda-feira passada ouvi um dirigente nacional do PSD afirmar, muito convicto, que as razões do falhanço total das políticas económicas deste governo da república deviam-se à conjuntura internacional.

Esta foi a primeira vez, depois das eleições nacionais de 2011, que ouvi um dirigente do PSD aventar que esta crise que nos assola poderá afinal ter outro responsável que não o anterior primeiro-ministro. Pois é, afinal começam a cair as máscaras daqueles que sempre se esforçaram por atribuir as culpas a quem lhes dava jeito, quando todos sabiam que por essa Europa e pelo Mundo fora muitos países passavam por dificuldades semelhantes às nossas.

Agora, acossados por todos os lados e acusados de não conseguirem melhorar a situação económica do país, apesar do impressionante sufoco fiscal a que sujeitam e vão sujeitar ainda mais os portugueses, começam a pôr a mão na consciência e atiram para a conjuntura internacional as culpas desta crise, coisa que também deveriam ter feito, se houvesse honestidade política e intelectual, na altura em que entraram em campanha eleitoral.

Pela nossa região assistimos a algo parecido, mas ao contrário. O PSD andou à procura de buracos financeiros, de contas mal geridas, tentou empolar os números da crise, eu sei lá do que mais…

Como as coisas afinal não eram assim – e isso foi confirmado por entidades idóneas – o PSD desesperou, arrepiou caminho e mudou de tática. A opção passou pelo ataque pessoal de uma forma inadmissível nos tempos que correm, pela promessa de empregos inexistentes, pelas ameaças constantes, pela instrumentalização de atividades religiosas, pelo incentivo a manifestações de descontentamento, pelo prometer tudo a todos, desde obras até cargos políticos na administração regional e nas empresas públicas. Enquanto isto a líder do ainda maior partido da oposição anda por aí, feliz e contente, a afirmar que vai cortar aqui e ali, que vai moralizar o sistema, num constante debulhar de ideias avulsas e contrárias às ações perpetradas pelo seu partido por essas ilhas fora. Como é possível isto acontecer?

Enquanto isto o Governo da responsabilidade do PS continua a governar para os Açorianos, abrindo esta semana mais um ano letivo sem sobressaltos, recebendo nota positiva dos professores, pais e alunos e com a novidade de fornecer o pequeno-almoço aos alunos que dele precisem.

Pois é, a vida tem destas coisas.

13 de setembro de 2012

Semana negra


Esta semana fomos novamente confrontados com mais medidas de austeridade e outra vez destinadas aos mesmos de sempre: os que menos podem.

Este governo de maioria PSD / PP entalou, literalmente, os portugueses e agora, depois de terem destruído milhares de postos de trabalho por via da redução do poder de compra, atiram-nos com mais impostos por já não saberem o que fazer.

Ainda de vez em quanto falam de uma herança pesada que receberam do governo anterior, mas o que é certo e sabido é que vão deixar ao próximo governo, além de uma herança ainda muito mais pesada, um país completamente empobrecido por medidas draconianas difíceis de suportar. Era por isto que os portugueses esperavam quando votaram em 2011? Certamente que não.

Estas medidas agora anunciadas tiveram um mérito inédito: não agradaram nem a gregos nem a troianos. Foram contestadas por todos, desde patrões a empregados, inclusivamente juntaram protestos de todos os partidos da oposição e também do PP, que, como se sabe, é parceiro do PSD no governo da república.

É caso para dizer que o PSD pensa que é o único partido que marcha certo e enquanto viver nesta ilusão não terá capacidade para perceber o mal que está a fazer a milhares de pensionistas e reformados, a trabalhadores que todos os dias veem acabar os seus postos de trabalho, às pequenas e médias empresas que não têm procura já que o poder de compra dos portugueses caiu a pique para níveis inauditos.

Assim vai a república arrastada por este desgoverno que, mesmo nesta conjuntura de aumento desmesurado da carga fiscal, mostra-se incapaz de melhorar as contas públicas.

Aqui nos Açores temos passado ao lado deste desvario, porque os governos do Partido Socialista tiveram o mérito e a sabedoria de manter as contas públicas em ordem e é por isso que este ato eleitoral que se aproxima é dos mais importantes dos últimos tempos.

Temos de combater o PSD, o de lá e o de cá, temos de nos manter firmes e intransigentes e bater o pé para que a autonomia dos Açores não seja alienada ou delapidada.

7 de setembro de 2012

Desta vez a derrota veio de Lisboa

Recentemente o Governo Regional dos Açores assinou com o Governo da República um memorando de entendimento, proposto em julho de 2011 pelo presidente Carlos César e aceite pelo primeiro-ministro em setembro do mesmo ano.

Quando o documento foi conhecido logo surgiram os agoirentos de turno a debitar considerandos, todos eles forrados de um pessimismo atroz, dizendo, nomeadamente, que os Açores tinham hipotecado a autonomia por uns milhões de euros.

Ora, nada de mais errado. A República Portuguesa, através deste documento e do que está plasmado no relatório da Inspeção Geral de Finanças, reconhece que a Região Autónoma dos Açores tem cumprido as metas orçamentais, não precisando de reduzir a despesa nem de aumentar a receita, nem tão pouco tem a necessidade de criar medidas restritivas ao contrário do que acontece lá fora ou na vizinha Região Autónoma da Madeira.

Isto quer dizer que os Açores não perdem a capacidade de promover medidas próprias de apoio às famílias e às empresas, como é o caso da redução do preço dos combustíveis, o complemento regional de pensão (cheque pequenino), complemento de abono de família para crianças e jovens ou a comparticipação na aquisição de medicamentos por idosos, não esquecendo o IVA mais reduzido ou o IRS e o IRC mais baixos em cerca de 20%.

Este acordo destinou-se a refinanciar a dívida pública devido às dificuldades de acesso aos mercados externos e garantir a capacidade da Região Autónoma dos Açores de manter uma política diferenciada, já que as contas dos Açores em nada contribuíram para o desequilíbrio financeiro do país.

Ao invés do que uma certa oposição pretende fazer crer, este entendimento é uma vitória e premeia a boa gestão das finanças públicas da Região Autónoma dos Açores.

É claro que o PSD, agachado à espera de um resgate financeiro ao estilo da Madeira, sofreu um novo revés, só que desta vez a derrota veio de onde menos se esperava, de Lisboa.

30 de agosto de 2012

Tal como o tempo


Os Açorianos sempre estiveram atentos às questões ligadas à meteorologia. Podemos mesmo dizer que em cada Açoriano há também um meteorologista, tão habituados que estamos a acompanhar o tempo nas nossas ilhas. Dão-se palpites, indica-se quando roda o vento, conclui-se quando é que o tempo vira. Quem por cá por vive sabe muito bem que as alterações da natureza são rápidas e cíclicas.

É também conhecido que quando o tempo começa a piorar no Corvo ou nas Flores, mais dia, menos dia haveremos de levar com a nossa parte. É por isso que os Açorianos ficam colados ao televisor, à espera de “O tempo” na RTP-Açores e avaliam o que está a acontecer por lá para perspetivar o dia seguinte. É uma situação que acontece vezes sem conta.

Neste momento em que se aproxima o final do prazo para a entrega das listas de candidatos às próximas eleições regionais saem notícias, primeiro dos cabeças de lista e depois de toda a sua constituição.

Algumas vezes somos surpreendidos com os nomes de pessoas que nem vivem nos círculos eleitorais por onde concorrem, o que, quanto a mim, não contribui para a credibilização da política.

Mas a notícia mais inesperada foi a de que o PSD não consegue fazer uma lista que concorra pelo círculo eleitoral do Corvo.

É estranho um partido, que se constitui como alternativa de poder e se autointitula como um partido de implantação regional, não conseguir, junto do seu eleitorado daquela ilha, fazer uma lista para concorrer por aquele círculo eleitoral.

Mais estranho ainda é a solução que aquele partido arranjou: apoiar o líder do Partido Popular Monárquico, precisamente aquele que desalojou o PSD do panorama político daquela ilha, no que respeita às eleições regionais.

Tal como o mau tempo também a primeira derrota do PSD vem do ocidente.

23 de agosto de 2012

Sondagens e outras coisas mais


Chegados a este período de pré-campanha eleitoral é habitual os partidos encomendarem sondagens para, a partir das suas conclusões, poderem ajustar estratégias, escolher candidatos ou mesmo reverter o modo de atuação junto das populações que servem.

Como se percebe este tipo de estudo pode, efetivamente, ser importante para os partidos políticos e para o sucesso de uma campanha eleitoral que todos querem que resulte numa vitória. É um instrumento que pode apoiar as lideranças e ajudar no planeamento das campanhas eleitorais.

O que já não é muito correto é o aproveitamento distorcido e malicioso que é feito de sondagens, invertendo resultados para daí poderem tirar algum proveito político.

Já em 2004 o PSD exibia uns papeletes afirmando ser detentor de sondagens que lhe davam cerca de 60% das intenções dos votos dos Açorianos. Embora coligado com o PP, estas forças políticas ficaram-se apenas pelos 36,8%.

Em 2008 o PSD repetiu a proeza e optou por atirar cá para fora novas sondagens que lhe davam uma vitória inequívoca. Uma vez mais enganaram-se, porquanto não passaram dos 30,3%.

Agora em 2012 o PSD tenta, a todo o custo, fazer passar a mensagem da existência de sondagens favoráveis, mesmo tendo conhecimento de que todas as que existem, as deles e as das outras forças partidárias, atribuem-lhe, mais uma vez, uma derrota.

Por aqui se vê que o PSD não aprendeu com o passado, como seria bom-tom. Teima em utilizar este tipo de estratégia de uma maneira arrogante como forma de adquirir algum balanço.

É apenas uma ilusão que não leva a nada, porque as eleições ganham-se nas urnas. Aquela que será a verdadeira sondagem só sairá no dia 14 de outubro e essa, com toda a certeza, não falhará.

16 de agosto de 2012

Ilha de chegadas e de partidas


Sempre fomos habituados a este frenesim próprio de um lugar pequeno. Uns chegam, para cumprirem uma função ou uma missão, enquanto outros partem para outros destinos para aí realizarem outra função ou nova missão.

Sempre fomos habituados a este fado de ver partir os amigos cuja amizade foi feita com base neste forma simpática com que recebemos quem nos visita. Por aqui, quem acolhe tudo faz para receber bem e quem é acolhido entrega-se surpreendido pela simpatia desinteressada dos locais.

Ontem, dia 15 de agosto, pude assistir a mais uma festa de homenagem ao Padre Dinis Silveira, a escassos dez dias da sua partida, neste caso na paróquia de Nossa Senhora da Luz. A população, reconhecida pela entrega do seu pároco, compareceu em força e agradeceu, à sua maneira, o seu esforço e a sua dedicação. Já antes o povo da Ribeirinha e de Guadalupe tinham feito também a suas homenagens.

Sobre a obra deste operário de Deus deixada nesta ilha já muito se disse. Sem dúvida que este homem deixa-nos, nesta sua passagem pela ilha Graciosa, uma marca que perpetuará por muitas gerações. Foram várias as suas intervenções, desde a requalificação de igrejas, capelas e altares, até à recuperação de imagens divinas, construção de salas de velórios e centros paroquias. Ele de facto esteve em todas as frentes.

Apesar deste seu interesse pelo lado mais material das suas paróquias, o Padre Dinis nunca descurou o lado espiritual do seu rebanho. Antes pelo contrário. Recuperou tradições religiosas, empenhou-se em catequizar os mais jovens, animou os mais idosos, confortou os doentes e apoiou os mais frágeis da nossa sociedade.

Porventura esta sua conduta não terá agradado a todos e até poderá ter causado alguma ciumeira nos meios locais. Mas foi uma obra notável, só possível porque o Padre Dinis Silveira se entregou de corpo e alma à sua missão, não se desviando um milímetro do essencial.

No dia 25 de agosto partirá um amigo, mas a amizade ficará para sempre no coração dos Graciosenses.

9 de agosto de 2012

Graciosa mais verde


Hoje, pelas 11 horas, irá proceder-se à assinatura do “Master Agreement” entre a EDA e a empresa Younicos.

Como é conhecido, a Younicos já trabalha no projeto de produção de energia limpa para a Graciosa desde há algum tempo. Na cidade de Berlim, onde a empresa tem a sua sede, foi realizada uma experiência em grande escala, onde foram feitos testes exaustivos e que provaram ser possível desenvolver a ideia de produzir e armazenar energia a partir de fontes alternativas.

 Representará um investimento total de 25 milhões de euros e pretende substituir o consumo de combustíveis fósseis para produção de energia por fontes amigas do ambiente, neste caso a eólica e a solar que, combinadas, serão suficientes para produzir 100% das nossas necessidades energéticas.

Sem dúvida nenhuma que a partir de agora nada será como antes. A aposta que o Governo dos Açores tem feito no ambiente tem dado resultados e este projeto, que foi distinguido com o Prémio Solar Europeu, irá permitir a esta ilha tornar-se numa ilha verde a muito curto prazo.

Este importante passo é, decididamente, o culminar de um processo inovador, que exigiu muita investigação e que, por isso, trará à Graciosa alguma notoriedade. Por outro lado permitirá, também, deixar um legado importante para o futuro.

Seguramente que este projeto será alargado a outras ilhas, tornando os Açores, cada vez mais, como um dos melhores locais do mundo para se viver.

2 de agosto de 2012

Turismo sustentado


O equilíbrio que se pretende manter nos Açores entre a natureza e o desenvolvimento do turismo tem vários caminhos, especialmente nas ilhas de menor dimensão.

O Turismo em Espaço Rural pode ser um contributo importante para diminuir a sazonalidade. É uma experiência que permite conhecer o dia-a-dia da vida no meio rural e ir ao encontro das origens culturais destas ilhas.

O Mergulho é, também, uma oferta que está a crescer em todas as ilhas. Segundo a obra “Debaixo de Água: 24 lugares de mergulho que todos os mergulhadores devem conhecer”, publicado na Alemanha, curiosamente o maior mercado mundial, os Açores estão entre os 24 melhores destinos de mergulho do mundo. Várias revistas da especialidade relevam as potencialidades das paisagens submarinas do nosso mar, onde se incluem baixas, cavernas, arcadas, ilhéus e naufrágios, que albergam uma variedade enorme de peixes, algas e corais, difíceis de ver noutros locais.

A Observação de Aves, embora de uma forma subtil, está também em franco crescimento nos Açores, nomeadamente no Corvo e na Graciosa. São procuradas aves migratórias dos continentes Americano e Euroasiático e outras espécies raras, como é o caso do Painho de Monteiro, tão bem retratado no recém-lançado documentário de Pedro Carvalho “Em busca do Painho de Monteiro”, que será transmitido em televisões nacionais e estrangeiras. Neste momento estão identificadas cerca de 400 espécies observadas na região.

A Observação de Cetáceos tem vindo a evoluir de forma sustentada e ainda tem espaço para crescer mais no futuro.

Os trilhos pedestres disseminados por todas as ilhas, alguns deles sendo reaproveitamentos de antigos caminhos para pessoas e animais, complementam a oferta turística e aproximam o turista da natureza deslumbrante dos recantos das ilhas, abrangidos por esta rede.

Aproveitar as potencialidades destas formas de turismo no futuro próximo é o repto que as ilhas da coesão têm pela frente. A conquista de nichos de mercado com práticas amigas do ambiente é a melhor forma para crescer de forma sustentada, provocando um impacte reduzido na natureza. E é esse o caminho que devemos seguir.